O sexo é uma fonte de prazer e vida, uma troca energética intensa de tudo que há em nós e no outro. No entanto, vivemos em uma época de excessiva liberdade sexual, da pornografia cada vez mais disseminada por imagens, palavras e comportamentos que rapidamente se alastraram pela sociedade contemporânea. Amortecidos e desavisados, homens e mulheres entram em ciclos viciosos, de dominação (principalmente sobre o feminino), desequilíbrio e doença. Ao trazermos consciência e atenção para nossa sexualidade, podemos transformar essa realidade.
A luta das mulheres por direitos políticos e por liberdade sexual foi um movimento importante para libertação de padrões estereotipados projetados historicamente em nós (de puta/santa/mulher pra casar/mulher pra transar). No entanto, com isso adotamos um modelo de liberdade sexual patriarcal, apresentando um padrão de querer agradar sexualmente o homem acima de nossas vontades, de ansiar ser desejada e amada. Assim, muitas vezes nos objetificamos ou nos deixamos ser objetificadas, sem conhecer nossos próprios caminhos de prazer, nosso corpo e sem saber como atingir um orgasmo.
Retomar o caminho e a responsabilidade pelo próprio prazer é muito importante em nossa jornada como mulheres. Cabe a nós mesmas nos conhecermos, nos tocarmos e manifestar como queremos ser tocadas, conhecendo o nosso corpo e o que nos faz sentir prazer. Somos responsáveis por nossa plenitude sexual – mesmo nas ocasiões em que compartilhamos o sexo com outra pessoa. Depende de nós fazer fluir essa experiência divina, a partir do entendimento de que tudo vale se estamos firmes em nosso amor próprio e autorrespeito.
Nessa caminhada, precisamos reconectar com a nossa sabedoria feminina ancestral que nos traz a consciência da profundidade das trocas energéticas envolvidas nas relações sexuais. Aos poucos vamos unindo essas pautas, trazendo empoderamento feminino através do amor, do prazer pessoal e do profundo respeito com nossos corpos.
Nosso corpo é a morada de nossa consciência. Quanto mais avançamos no processo do autoconhecimento, da autoestima e da autorresponsabilidade, mais natural é o caminho que nos leva a tratar nosso corpo como um espaço sagrado. Dentro do corpo feminino, o útero é parte essencial para o realinhamento com a sacralidade do corpo. Muitas linhas espirituais o reconhecem como um forte centro alquímico de poder, nomeando-o portal de criação, cálice sagrado, palácio celestial.
Retomar a consciência física e também sutil de nossos úteros é um caminho que pode nos levar a mais prazer, criatividade e realização. O processo tende a ser gradual e natural, mas nossas escolhas também auxiliam nessa reconexão. Existem muitas ferramentas para liberação e fortalecimento do útero: meditações, respirações, terapias, plantas medicinais e até exercícios físicos. Os ovos de cristais, como os de quartzo rosa e jade, também ativam o potencial de cura do ventre. O tratamento com o ovo de obsidiana é um estudo sério e profundo que nos permite adentrar no espectro escuro do nosso inconsciente, para revelar os conteúdos reprimidos do feminino. Há muitas opções efetivas, desde que sejam realizadas com acompanhamento adequado e os devidos cuidados.
Além do útero, conhecer melhor o clitóris também abre os caminhos para nossa sexualidade sagrada. Fonte do orgasmo feminino, ele existe exclusivamente para nos ofertar prazer, de uma forma muito delicada e ao mesmo tempo intensa. Somos capazes de atingir por nós mesmas satisfação e plenitude e amar e honrar toda e cada parte de nosso corpo.
É importante também cuidar energeticamente de nossos corpos sagrados. Afinal, quem estamos deixando adentrar este nosso espaço tão especial (físico e sutil) e influenciar nossos campos? Acredita-se que a relação sexual cria fios energéticos que nos mantém ligados a parceiros e parceiras por anos, e quando envolve a troca de fluídos, essas ligações por ressonância se tornam ainda mais fortes. É preciso cuidado para não se enredar. Quando abrimos nosso corpo para outro ser, estamos recebendo essa pessoa em sua totalidade. A relação sexual abre portais intensos, que dão passagem para aspectos de luz e sombra. Através da sexualidade, podemos contatar o melhor e o pior de cada um. É importante estarmos atentas e presentes para construir uma troca consciente, que nos nutra e nos permita doar virtudes e transmutar impurezas energéticas. Entre os termômetros mais eficazes, estão o carinho, o respeito e a empatia. Escolher estar com alguém que admiramos, que nos honre e respeite. Observar o que nossas relações nos trazem, que sentimentos despertam e que efeitos geram em nossos corpos e nos desdobramentos de nossas vidas. Se paramos de ingerir determinados alimentos e substâncias que julgamos tóxicos, porque iríamos permitir toxicidade em nossos relacionamentos?
A descoberta sexual é um caminho pessoal, com diversas possibilidades de manifestação e, assim como a vida, deve ser trilhado com a intuição, nossa bússola interior. Todos os seres têm o direito de viver a plenitude de sua expressão sexual, desde que respeitem o próprio bem-estar e a liberdade dos outros. Conhecer nossos corpos e os caminhos de nossos desejos é um mergulho que apenas nós mesmas podemos nos proporcionar.
Esse texto foi escrito por Isadora Lescano e por nós para a Mandala Lunar 2018. A Mandala Lunar também conta com muitos conteúdos inspiradores sobre os ciclos da natureza, mulheres, saúde, entre outros.
Ilustração: Chana de Moura