“Enquanto a terra não for livre, eu também não sou.”
A autonomia e liberdade do território-terra transpassa a autonomia e liberdade do território-corpo. Com isso em mente, a Amaluna realiza, desde sua criação, a distribuição da Mandala Lunar em territórios indígenas.
Para isso contamos com uma rede de colaboradoras que tecem encontros com rodas de conversa, partilhas, entregas e apresentação dessa ferramenta que pode ser um instrumento poderoso de autoconhecimento e de construção de autonomia.
Em janeiro deste ano, nossa parceira Ceci Goēy, do projeto Territórios-corpa em expressão, mediou conversas e entregas de centenas de unidades da Mandala Lunar 2023 nas aldeias Tibá e Pequi, parte da Terra Indígena (TI) Comexatiba, no município de Prado, Extremo Sul da Bahia. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), a TI é uma área de 28 hectares habitada pelo Povo Pataxó.
Ceci vem há alguns anos tecendo redes de afeto e cuidado nas aldeias e se dispôs a levar os exemplares de Mandalas e a facilitar rodas de conversas e atividades propostas pela Amaluna.
Este vídeo foi realizado por Airton Gregório, que também fez parte dessa ação da Amaluna, somando com seu trabalho de captação de imagens:
“De menina de 7 anos a anciã de 72, pudemos abrir e tocar com carinho e atenção juntas no que sentimos que é importante ser observado, cuidado, compartilhado e cultivado na experiência de sermos mulheres neste momento neste planeta. Falamos sobre as diferentes perspectivas de ser mulher, as lutas e os desafios, as bênçãos e as delícias, as responsabilidades, a comunidade, os apoios, os cuidados, os elos. As relações com a menstruação e com diferentes ervas estiveram fortemente presentes em todo o encontro, costurando assuntos e dinâmicas. Trouxemos nossos superpoderes para a roda, nesse exercício de nos percebermos e valorizarmos, e construímos dois balaios: o de ser mulher (onde várias maneiras de perceber e exercitar sua mulheridade se colocam como possibilidades de experimentar-se e inventar-se) e o do autocuidado (onde as mais diferentes dicas, trazidas por todas, ficam disponíveis para todas),” conta Ceci, que facilitou o encontro.
Na atividade, além da roda de conversa, aconteceu uma oficina sobre a Mandala Lunar e as possibilidades de uso dos diagramas. O encontro foi aberto com um rezo feito pelo cacique Zé Fragoso (que depois se retirou) e encerrado com um canto de Ane Kethleen (Waiã), neta de Zé Fragoso, que recentemente lançou um livro sobre sua bisavó Zabelê, seu avô e histórias da comunidade.
A Pequi é uma comunidade pequena, onde as famílias vivem com muita cooperação, união e amorosidade, com teias de respeito e cuidado fortalecidas.
Com escutas atentas e interessadas nas experiências trazidas umas pelas outras, a conversa nessa aldeia girou sobre desafios, bênçãos e diversidades em nossas vivências como mulheres. A importância tanto de espaços exclusivos de mulheres quanto de espaços com homens presentes (pois eles têm muito o que escutar e aprender) foi trazida, valorizando diferentes estratégias em nossos fortalecimentos.
A roda começou contando com mulheres, homens e crianças da aldeia. Quando a focalizadora iniciou falando sobre a proposta da Mandala Lunar, naturalmente e de maneira muito leve, os homens foram se retirando, formando uma roda paralela.
“Participamos da mandiocada, preparo de farinha, de beiju, de bolo de puba… A realização da roda das mulheres se deu nesse clima maravilhoso, numa tarde que deu sequência ao dia todinho de muitos saberes compartilhados, brincadeiras, banho de rio, pega-pega, comilança, risadas.”
Durante o encontro, as mulheres se mostraram interessadas em formas diferentes de vivenciar a menstruação, como, por exemplo, o uso do coletor menstrual, o qual poucas mulheres conheciam. Além disso, o tema sobre anatomia da vulva e as formas de prazer também geraram uma interação gostosa entre as participantes — com direito a tema de casa. No dia seguinte, as mulheres trouxeram seus relatos sobre a atividade de auto-observação.
Nesse dia também foram realizadas gravações, em que Ceci perguntou sobre o que elas percebem que conquistaram como mulher que traz orgulho e alegria às suas ancestrais.
“A conexão com os desejos e com as lutas por libertações (e também com as limitações e repressões das suas mais velhas) para daí espelhar-se, refletir-se na dança do tempo e dos passos trilhados, reconhecer-se e oferecer-se em reverência a elas como motivo de orgulho, foi muito emocionante,” conta a facilitadora.
A equipe da Amaluna segue em contato com instituições, coletivos, organizações ou causas lideradas por mulheres negras, indígenas, camponesas e/ou periféricas em situação de vulnerabilidade social. Se você conhece algum projeto com o qual podemos colaborar, preencha o formulário para indicação de projetos sociais aqui.
A Amaluna é a área social da Mandala Lunar. Foi criada em 2021 a partir de um desejo de apoiar instituições, coletivos, organizações ou causas lideradas por mulheres negras, indígenas, camponesas e/ou periféricas em situação de vulnerabilidade social.
Parte dos recursos recebidos com as vendas da Mandala Lunar são destinados para mobilizações que atuam na promoção da segurança alimentar, educação, autonomia e dignidade menstrual e no combate à violência de gênero.