por Bárbara Ferreira (@barbara.f.erreira)
Aprender a linguagem das plantas é como aprender um novo idioma, e a melhor forma de fazer isso é vivenciando.
O caminho para conhecer as plantas começa com os sentidos – ver, sentir a textura, depois o aroma, o local onde ela nasce, as plantas e insetos que as cercam.
Não importa onde você vive, certamente na sua casa, no seu trabalho, faculdade ou no caminho do mercado, observe as plantas que nascem aí: árvores, plantinhas que insistem em nascer no canto da calçada ou do muro, os vasos ornamentais – essas plantas que nos cercam são as primeiras que temos que descobrir quem são.
Depois de mapeá-las procure pelo seu nome popular – pergunte às pessoas do local ou mande uma foto para alguém que possa conhecer! Ao saber seu nome popular, pesquise o nome científico e seus usos tradicionais e fitoterápicos. Existem sites confiáveis para isso como: o Horto Didático de Plantas Medicinais da UFSC e o DATAPLAMT da UFMG.
Abaixo você encontra informações sobre algumas plantas e seus usos tradicionais de acordo com Bárbara Ferreira – ela é erveira, alquimista, historiadora indigenista, atende e ensina mulheres sobre cuidado, saúde e autonomia através das plantas e vai nos guiar nesta jornada:
A rosa tem pelo menos 5 mil anos de domesticação, sendo popularmente usada para diversas questões, e é a flor mais antiga do mundo, com datação de 200 milhões de anos.
Seus princípios mágicos estão ligados à serenidade, orientação, clareza nas ideias, purificação e recuperação de fortes dores emocionais.
Muito usada na forma de banhos sagrados em comunidades e terreiros, ela regula a saúde espiritual e prepara para outros cuidados mais profundos.
Ela é antiinflamatória, bactericida, fungicida, sedativa e usada para tratamentos dos olhos. Sua eficácia antimicrobiana foi comprovada pela academia.
Bárbara conta que sua avó usava o chá para lavar a cabeça das crianças que estavam feridas por piolho, caspa ou com alguma dermatite no couro cabeludo. Além disso, usava emplastro de rosa para inflamações nos olhos (conjuntivite, terçol e outras alergias).
Bem mais tarde, na Chapada Diamantina, conheceu seu uso para questões ginecológicas por parteiras tradicionais, que a utilizam para o tratamento de candidíase, pós-parto, pós-gestações interrompidas, corrimentos e vaginites, ressecamento vaginal e vaginismo. São usadas as pétalas da rosa branca como banho de assento e lavagens.
Na alquimia, suas pétalas representam a pluralidade da experiência na Terra, seu aroma doce acalma e direciona o iniciado, e seus espinhos lembram da presença necessária ao trabalho alquímico — seguir o fluxo de aperfeiçoamento da natureza dentro e fora.
O vermelho da casca e dos frutos é a assinatura da Aroeira no mundo. Seu cheiro doce e picante para dizer: eu sou uma mulher forte.
Surpreende com seus frutos, no outono e na ventania, quando tudo ao seu redor adormece. Planta daquela que é mãe de 9, que se casou com todos os orixás para aprender o que cada um tinha a ensinar. Planta de Oyá.O seu planeta regente é Mercúrio, o planeta da comunicação, da inteligência, das tecnologias.
Essa planta, natural da América do Sul, presente na mata, na floresta, no cerrado e nos pampas, é central em diversas tradições femininas de cuidados com as plantas.
As parteiras do sertão da Bahia utilizam a entrecasca no pós-parto como cicatrizante, anti-inflamatória, bactericida. Na ervaria, a entrecasca é o carro-chefe no tratamento de lesões de Papilomavírus Humano (HPV) e de candidíase e é auxiliar no tratamento de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Seu fruto, a pimenta rosa, é famosa por seu sabor doce e picante, marcante e inesquecível. Os milhões de frutinhos guardam um potencial medicinal bactericida, seu óleo essencial (OE) já foi utilizado para desinfectar hospitais de superbactérias, sendo mais eficiente do que produtos de limpeza industriais.
Abundante em óleos essenciais, é um aroma muito querido na perfumaria, sendo um aroma complexo, que pode ocupar as notas de coração, cabeça e fundo, dependendo da intenção da perfumista.
Com certeza tem um pé de aroeira perto de você. Ao encontrá-lo, faça uma reverência, pegue um galho e prepare um banho das folhas (também rica em OE) para limpar as antigas energias, potencializar sua interação com o mundo, fortalecer a mulher que mora aí e que se transforma em búfalo quando é preciso.
Você sabia que a Pocahontas existiu? E ela tem muito a nos ensinar sobre a mais antiga planta de poder das Américas — o tabaco.
Seu nome era Matoaka. Ela era da etnia powhatan (atual região da Virgínia, nos EUA), casada com um colono inglês e, em suas cartas de amor e fúria, ela alerta o colonizador sobre o mau uso dessa planta: “nossa maior benção será o maior veneno para seu povo, vocês deveriam ter perguntado aos nosso anciãos como se deve usar essa planta.” (Essas cartas são abertas ao público em Washington, e esse trecho é uma tradução livre.)
O tabaco é medicinal, mas seu mau uso o torna tóxico — o tabaco nunca deve ser tragado.
Ele é um alcalóide, com pH superior a 7, o que ajuda no tratamento de várias doenças alcalinizando o organismo.
Poderoso ansiolítico, por isso tão disseminado na modernidade, ele relaxa, ajuda no trânsito intestinal e regula o apetite — se usado a partir dos ensinamentos originários, como alertou Matoaka.
Usado tradicionalmente na forma de cachimbos ou do rapé, ainda em banhos e outros rituais, ele pode ser um grande aliado para as mentes ansiosas e solitárias dos tempos modernos.
É a planta psicoativa mais antiga do mundo, e trabalha como mediador de encontros, guardião das comunicações, facilitador de resoluções e de purificações coletivas.
Sairi, em quéchua, Dume, em hatxa Kuin, o tabaco está na fundação das principais sociedades originárias — os guarani, os quechuas, os charruas, os hopi, os Huni Kuin, todos têm o tabaco como planta central na espiritualidade, na agricultura e na medicina.
O tabaco é a prova histórica de que o desrespeito às tradições originárias adoece e de que precisamos escutar e respeitar os guardiões da natureza!
Essa planta mestra de origem africana foi trazida nos porões dos navios negreiros para perfumar e proteger a jornada das pessoas retiradas de sua Terra Natal.
A Aeollanthus suaveolens é chamada de makasá em yoruba. Ela é a base de várias tradições de terreiro, usada em banhos e preparações de espaços e instrumentos de poder — tudo deve passar pelo macassá para então ir para o ritual.
No formato de chá, é febrífugo, usado para tratar problemas no orí (cabeça) — enxaquecas, confusão mental e até princípio de derrame.
É uma planta abundante e com um cheiro singular e muito amoroso. Bárbara conta que o aroma da planta sempre remeteu ao cheiro de leite quente e, com o tempo e os estudo, descobriu que realmente o seu óleo essencial é rico em lactonas, molécula que confere aquele cheirinho especial ao leite – muita gente que acha que é próximo ao aroma de coco e baunilha.
O Macassá é uma delícia na culinária também: o arroz doce com Macassá é uma riqueza!
É um aroma muito caro à perfumaria, pois compõe acordes cabeça e coração, proporcionando boa fixação.
“Apanha a laranja, menina, apanha a laranja no chão, defenda seu reino sozinha, com a força do seu coração…”
Das cantigas da capoeira angola, aos títulos infantis como “Meu pé de laranja lima”, a laranja tem lugar nas nossas memórias mais primordiais.
A laranja é um lindo exemplo de como a natureza nos dá tudo o que precisamos, quando precisamos: em sua natureza, ela frutifica no inverno e oferece uma fonte de vitamina C e hesperidina fundamentais para manter a saúde das vias respiratórias no tempo em que esse sistema fica mais vulnerável — o inverno.
A laranja nos lembra de que o alimento deve ser nosso primeiro remédio!
Como alimento, além de rica em vitamina C, é também rica em isoflavonoides, que combatem os radicais livres e eliminam células antigas, reduzem o mau colesterol e fortalecem o sistema imune.
Na menopausa, é superimportante para regular os hormônios e tornar mais leve a transição para a fase madura da vida.
A laranja é eficiente para modular o apetite e reduzir a compulsão por doces, também auxiliando no controle do peso.
Suas cascas desidratadas são usadas para fazer chás saborosos e supercalmantes, que também diminuem os gases e os sintomas de má digestão.
Algumas alquimistas a consideram uma planta de mercúrio, altiva, comunicadora, que auxilia a ativar essas virtudes em nós — para isso, faça um banho com suas folhas maceradas em água fria.
Outras alquimistas a consideram uma planta solar — de qualquer forma, é uma planta que ativa e expande, e deve ser usada em magia principalmente quando buscamos realizações materiais e profissionais.
Você conhecia os usos tradicionais destas plantas? Como é sua relação com elas? Conta pra gente aqui nos comentários.