Para lembrar que os “parabéns” precisam vir sempre acompanhados de ações
Todo 8 de março é a mesma coisa: flores e elogios enaltecendo nossa beleza, doçura e superação. Não somos guerreiras e cuidadoras “por natureza”, fomos socialmente ensinadas a ser assim. A guerreira que precisa dar conta de tudo, a mulher dócil que precisa cuidar de todos sem reclamar. Mas estamos sobrecarregadas e exaustas por cumprir os mais diversos papéis sociais que nos colocam sempre nessa posição de cuidado com os outros: quem limpa a casa, organiza a alimentação das crianças, a rotina escolar, cuida dos familiares que envelhecem, lava as roupas do companheiro – e as tarefas nunca terminam.
O Dia das Mulheres não é uma data comemorativa, mas sim um dia de luta no qual as mulheres trazem pautas importantes de serem discutidas em sociedade. Para aplicar essas pautas, é preciso também se deslocar de lugares de privilégio já estabelecidos e agir para acabar com o machismo no dia a dia. Pensar em formas para que as mulheres tenham as mesmas oportunidades que os homens já têm.
Vivemos em uma sociedade machista e patriarcal. Essas opressões são estruturais, e não individuais. Ao reconhecer esse fato, podemos entender que estamos todos sendo educados a partir dessa perspectiva e reproduzindo essas opressões em algum nível. Logo, podemos também ter ações diferentes para mudar a sociedade da qual fazemos parte.
Djamila Ribeiro disse que “a inação contribui para perpetuar a opressão”, portanto precisamos agir na direção da mudança que desejamos – e isso significa que muitas pessoas (em geral, homens) vão precisar abrir mão de muitos dos seus privilégios já estabelecidos.
Ao praticar essas ações estaremos colaborando com um espaço mais justo, seguro e saudável para as mulheres. Entretanto, essas são atitudes que vão ser refletidas a nível social somente dentro de alguns anos – se começarmos a agir agora. Para combater o que já ocorre, precisamos também nos organizar em grupo.
Uma mulher é vítima de feminicídio a cada 6 horas no Brasil, segundo a pesquisa “Feminicídios em 2023”, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que explica: considera-se feminicídio quando o crime decorre de violência doméstica e familiar em razão da condição de sexo feminino, em razão de menosprezo à condição feminina, e em razão de discriminação à condição feminina (Bianchini, Bazzo, Chakian, 2022).
Para combater essas violências que sofremos é importantíssimo nos organizarmos com outras mulheres e levarmos o feminismo como uma luta coletiva na mesma direção: a de cessar o quanto antes esses dados alarmantes. Cobrar das autoridades medidas para que possamos viver de forma digna e exercer nossa liberdade com segurança – seja andando na rua ou dentro da nossa própria casa.
Temos nossa vida atravessada por violências físicas, psicológicas, sexuais, morais. E é preciso reconhecê-las, afinal, três a cada dez brasileiras já foram vítimas de violência doméstica – sendo 89% de violência psicológica, 77% moral, 76% física, 34% patrimonial e 25% sexual, segundo pesquisa do Instituto DataSenado em parceria com o Observatório da Mulher Contra a Violência (OMV). Ser mulher é viver em constante alerta e medo da violência.
A partir da luta feminista buscamos tornar a sociedade um lugar mais seguro para vivermos. O modus operandi do patriarcado nos quis apenas nos espaços privados, mas a história nos mostra que foi sempre juntas que conseguimos dizer não às opressões.
bell hooks disse no livro Erguer a Voz que “diferentemente de outras formas de dominação, o machismo molda e determina diretamente relações de poder em nossas vidas privadas, em espaços sociais familiares, no contexto mais íntimo (casa) e nas esferas mais íntimas de relações (famílias)”.
É importante criar relações estreitas de amizade entre mulheres para não nos isolarmos em espaços privados de casa/família. A Pesquisa Nacional de Violência contra as Mulheres aponta que para 17% das brasileiras, a família é o ambiente em que a mulher é menos respeitada, e para outros 25%, o trabalho.
Se nos locais onde mais estamos presentes – nossa casa e nosso trabalho – não estamos sendo respeitadas, onde esse respeito está sendo exercido?
Ter uma rede de amizade bem fortalecida e presente pode te permitir sair de situações abusivas e desrespeitosas sabendo que tem com quem contar. Não centralizar a vida apenas a um núcleo familiar, mas sim a diferentes pessoas amigas que te apoiem, escutem e até mesmo alertem para situações de risco.
Geração após geração, vamos derrubando cercas, pintando horizontes e inventando pontes. Nada é simples nesse caminho, mas quando vamos juntas, podemos ir mais longe. Liderando projetos, aprovando leis, quebrando tabus e manifestando nossa potência em todas as áreas do saber.
Atuar por uma sociedade mais justa não pode mais se limitar apenas a uma data, mas podemos utilizar a data para relembrar da importância dessa luta.
Arte de Luiza Guedes para a Mandala Lunar 2020