Consciente de que compartilhamos o ar com bilhões de habitantes desta Terra, inspire por um momento. O ar que entra e sai tece um fio invisível entre cada ser vivo do planeta. Olhe ao redor com a curiosidade de uma criança, como se estivesse vendo tudo pela primeira vez. Observe cores, texturas e luminosidades do que vê. Sinta os aromas e abra-se para ouvir cada som do ambiente. Quão preciosa é a oportunidade de estar viva agora?
A pandemia colocou tudo em perspectiva. Entre tantas descobertas, lutos, medos e renúncias, evidenciou que a realidade é tecida pelos relacionamentos e que estamos todas interconectadas em estado de contágio perpétuo. Enquanto nossa atenção é disputada por infinitos feeds e necessidades de autoafirmação e de sobrevivência no cenário capitalista, assistimos um desgoverno exercer a necropolítica, “passar a boiada” e devastar a nossa biodiversidade, como a Floresta Amazônica, que sustenta a vida de muitos seres, incluindo nós mesmas. A crise política do país tem empurrado milhares de pessoas para a pobreza. Em vários locais do mundo, fome e conflitos têm forçado pessoas a emigrar. As catástrofes ambientais que se anunciam farão essa pandemia parecer pequena. A disseminação de notícias falsas, auxiliada pela estrutura comercial das plataformas de comunicação online, cria um clima de polarização e hostilidade nas relações públicas, mas também nas pessoais. Precisamos de um antídoto para tudo isso.
Essas crises têm a mesma origem: uma visão de mundo que entende as pessoas como indivíduos separados que precisam lutar pela própria sobrevivência e que a natureza é um recurso à disposição da humanidade. Esse modelo individualista e antropocêntrico no qual o capitalismo se sustenta é, na verdade, insustentável, ilusório e está causando a destruição de toda a vida.
Por isso, precisamos descolonizar nosso imaginário e acessar outras visões de mundo (como as dos povos originários) que veem a terra como um ser vivo, valorizam o sentido dos sonhos, e reconhecem o poder da comunidade e da interdependência entre os seres.
Precisamos colocar a ética do cuidado como um guia para nossas vidas e reconhecer o amor não como sentimento, mas como ação política transformadora e potência regenerativa do nosso mundo. Cuidar de si e também cuidar do mundo, resgatar o poder dos sonhos, do riso, do gozo, da arte, de sonhar e ousar imaginar outras realidades. A beleza, a dança, o canto e as histórias são bálsamos e fontes de inspiração para o bem viver. Oferecemos aqui o que há de mais precioso em nossos corações, aquilo em que acreditamos, onde vemos força de cura, transformação e conexão. Que a Mandala seja um portal e uma semente a crescer e florescer em cada uma.
Com amor,
Ieve e Naíla